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PROFISSIONALIZAÇÃO

Como drag queens tentam se destacar depois da popularização da arte drag

A grande maioria das Drag Queens possuem uma grande influência da figura feminina, tentando parecer cada vez mais com uma mulher. Mas há exceções que acabam sofrendo um certo preconceito no meio. Depois da popularização do programa de TV RuPaul’s Drag Race, surgiu uma espécie de padronização da Drag. Quanto mais características femininas, melhor. Mas a padronização não é o único dos problemas. As drags do programa criaram uma espécie de patamar a ser alcançado. Mas para fugir disso, várias Drags tentam se diferenciar das demais. Esse é o caso de Verona.

Inspirado a começar a frequentar o universo drag devido a influência de seu ex-namorado, e também pela explosão e ascensão do movimento na grande mídia, Diego, um jovem de 26 anos, que atualmente mora em Campinas, interior do estado de São Paulo, encontrou em sua drag uma forma de se caracterizar artisticamente e fugir de seus problemas. Quando ele subia nos palcos para se apresentar em boates, ele não era mais Diego, o jovem massoterapeuta do interior do estado, ele era Verona.  “Por ser diferente, sofri preconceito por parte das Drags Queens, porque tenho um estilo diferente da grande maioria delas. Para elas, quando não se segue a inspiração feminina é algo esquisito”, comenta Verona.

Verona começou sua carreira em um concurso em Campinas. Venceu a competição de melhor performance e logo em seguida foi convidada a participar de um outro concurso em São Paulo. Na capital, a drag venceu três vezes consecutivas na categoria e no terceiro concurso também levou para casa o primeiro lugar. Encantada com esse universo, ela viu que tinha chances de continuar nesse trabalho de forma profissional. Investindo e começando a se apresentar profissionalmente, ela trabalha nas noites de São Paulo há 1 ano. Seu cache varia de R$150 à R$300, dependendo da visibilidade da casa.

Suas apresentações são inspiradas no voguing, que se trata de uma dança moderna inspirada em movimento dos braços, pernas e troncos que imitam a pose de modelos, conhecida como a dança do empoderamento. Ela também se inspira no hip hop, estilo musical e de dança surgido nas periferias dos Estados Unidos nos anos 70, como uma forma de protesto.

Pela falta de incentivo e boates que invistam na cultura drag em Campinas, Verona passou a se apresentar quase que exclusivamente na capital paulista. Ela também conseguiu fazer algumas apresentações no Rio de Janeiro e Santa Catarina. Porém, a cidade que a abraçou e abriu espaço para sua arte foi São Paulo.

Com todo esse deslocamento surgiram alguns contratempos como, por exemplo, a maquiagem. “É necessário começar a me montar horas antes da apresentação, levando de quatro a seis horas para estar completamente pronta. Mas isso não se torna uma barreira ou desculpa para eu não ir, pois o amor pela cultura e a vontade de deixar a minha marca é maior”, conta Verona.

Só que nem todos têm condições de se deslocar para outra cidade ou adquirir produtos diferentes para se montar, como é o caso do grupo MANXS. Segundo o grupo, a vida de uma drag queen que não tenho muitos recursos financeiros é bastante complicada pela necessidade de ter dinheiro para comprar roupa e maquiagem. Sendo assim, elas precisam se virar com o que têm.

Outra grande dificuldade que o grupo aponta é a desvalorização do trabalho de uma drag queen no Brasil. Como dito anteriormente, a explosão do RuPaul’s Drag Race colocou as drag queens em um lugar inalcançável, o que causou a inferiorização das drags nacionais. “O trabalho de drag queen nacional é bem maior do que uma internacional. Aqui, muitas drags fazem enormes performances. Porém, isso é deixado de lado quando uma internacional performa no país. É uma desvalorização da arte nacional”, aponta o MANXS.

Em eventos, por exemplo, os contratantes não imaginam o grande processo necessário para se montar, além do dinheiro que é preciso ser gasto com outros fatores. Com isso, as drags pedem um valor que cubra todas as despesas necessárias para que se apresentem nos eventos, porém os contratantes recusam. “Sendo assim, somos obrigadas a requisitar um valor menor do que o necessário, muitas vezes moldando esse valor para que seja compatível com o cliente. Essa é a maneira que nos possibilita de continuar construindo um nome e ganhando dinheiro”, conta o grupo.

Um fator que prova o alto esforço que o trabalho de uma drag queen tem, é a preparação para a montação e performance, como aponta Luís: “A gente se prepara, no mínimo, 4 horas antes do evento e fazemos, pelo menos, 30 horas de ensaio para alguma performance”

Fora esses fatores, ainda é sentida a desvalorização do processo de montagem e ensaio. “Tudo isso requer um esforço enorme. É necessário que a performance seja ensaiada, e como os horários não são compatíveis por conta da faculdade dos integrantes e de outros trabalhos, então acabamos ensaiando das 23h às 0h da manhã”

Muitos dos cachês que o grupo recebe são destinados para a compra de maquiagens que não possuem um preço barato, mesmo as adquirindo em lojas que os preços são mais acessíveis. A maquiagem usada por eles tem que ser sempre pesada e carregada, pois são usadas para mudar até o mesmo o formato do rosto. O grupo enfatiza que cada drag queen tem um estilo que precisa ser notado, por isso mesmo é necessário que ela tenha sua marca. Outro fator importante é que a maioria dos eventos ocorrem à noite. Ou seja, as maquiagens precisam ser notadas no escuro.

QUANTO CUSTA?

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r$ 25

até

r$12.000

PERUCAS:

As perucas sintéticas variam de R$ 25 até cerca de R$ 1.500.

As perucas de cabelo natural de R$100 até cerca de R$ 12.000, podendo ser até mais.

O que varia o preço é o comprimento da peruca, a qualidade do cabelo (há perucas de cabelo virgem), a cor, a touca do produto, corte e tipo de cabelo.   

MAQUIAGEM:

Uma Drag Queen pode utilizar uma maquiagem comum, mas segundo as fontes, a maquiagem mais profissional precisa ser mais carregada. Então o preço de maquiagem varia de acordo com os produtos.

Uma base precisa ser de alta cobertura, então normalmente se usa a em bastão (Paint Stick). O preço varia de R$ 70 até R$ 200 (unidade)

 

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depende 

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preço

varia

ROUPAS E ACESSÓRIOS:

Roupas e acessórios são os quesitos que mais variam. Tudo é feito e pensado de acordo com a festa, tema e até mesmo por meio da customização.

 

A maioria das drags entrevistadas fazem suas roupas, então não há um preço fixo.

 

FONTES: Entrevistados, LightInTheBoxG1Mercado Livre e Google Shopping 

UMA DRAG QUE

ALCANÇOU A MÍDIA

 

Guilherme Terreri Lima Pereira, (28) ou Rita Von Hunty, como é mais conhecido, criou seu nome baseado em uma pesquisa e no popular reality RuPaul’s Drag Race. Seu desejo era criar um nome que espelhasse quem sua Drag Queen iria ser. Notado pelo seu carisma e talento pelo canal televisivo E!, que o abriu portas para apresentar o programa Drag Me as a Queen com outras duas apresentadoras. 

A vontade de começar a se montar foi surgindo aos poucos. Formado em teatro pela Unirio, Guilherme começou a trabalhar como ator quando se mudou para São Paulo, em 2011, porém nunca abandonou sua outra vocação, ser professor. Em 2013, encontrou alguns amigos com os quais assistia o reality RuPaul’s Drag Race e, assistindo o seriado percebeu que uma mesma drag era responsável por tudo, desde figurino, até atuação e coreografia. Quando percebeu isso, ele decidiu seguir a área. Se montou pela primeira vez com um grupo de amigos em fevereiro de 2013, para a edição de carnaval da extinta boate paulistana Hot Hot. Depois desse dia, não parou mais.

Seu nome de drag, Rita Von Hunty é uma brincadeira com os anos 50, e com os filmes do Woody Allen. Quase todos os filmes do diretor têm uma personagem chamada Rita, e era sempre uma mulher branca de Manhattan puxada para um tom pitoresco de humor. O “Von” surgiu por causa de Dita Von Teese, uma popular atriz e modelo burlesca norte-americana. O “Hunty” é uma outra brincadeira. Veio do inglês, que se trata da união dos termos Cunt e Honey. “Hunty” é uma brincadeira da comunidade LGBTQ+, sendo também um termo muito usado em RuPaul’s Drag Race, que designa alguém que você ama e odeia em proporções iguais. Era esse sentimento que Guilherme causaria nas pessoas. Uma personalidade fácil de gostar por possuir um humor bastante agudo.

 

Inicialmente, seu objetivo com Rita era resgatar a sensação de estar no palco e atuar. Depois, virou uma expressão de resistência e quis propor uma reflexão com sua arte. Existem poucos pesquisadores e professores que são drag queens. Segundo ele, ser drag é um fazer artístico marginalizado, igual ao grafite. “Drag queen é tabu, é trabalho de gênero, de sexualidade”, complementa Guilherme.

A oportunidade de apresentar o programa Drag Me as a Queen apareceu de forma inusitada. Rita havia participado de uma web série chamada “Academia de Drags”. Nessa época, Guilherme estava se montando há aproximadamente seis meses. Algum tempo depois, começou a apresentar o “Tempêro Drag", um canal do YouTube. Um dia, no Facebook, apareceu um convite para participar de um processo seletivo para apresentar um programa de drag queens no Brasil, que seria exibido pelo canal “E! ”. Os requisitos se resumiam na gravação de um vídeo explicando o motivo pelo qual o participante gostaria de exercer esta função. Foram 150 mil inscritos no total e no final, sobraram apenas três, que são as apresentadoras atuais. O objetivo do programa consiste em transformar mulheres em drag queens.

A dinâmica adotada no programa é fazer com que aquela mulher se torne a protagonista de um episódio, e através disso, talvez, ela se torne protagonista de sua vida e sua história. O programa não é só sobre protagonismo, é também sobre permissão. Toda Drag Queen vai descobrir ao longo de sua jornada, que o que ela faz é se dar a permissão de fazer o que quiser. E talvez quando a mulher se transforma em Drag, ela entende a mesma coisa.     

RITA VON HUNTY, Drag Queen

Apresentar semanalmente um programa de televisão pode trazer consigo alguns problemas na bagagem. Uma diária de gravação possui 12 horas, com um contato muito próximo com as convidadas., então é preciso fazer com que seu corpo aguente as 12 horas em cima de um salto alto, espartilho e “aquendação”.

“Mesmo com pequenos contratempos vivenciados pelas apresentadoras, não há tempo ruim. A equipe se dedica ao programa ao máximo. Quando você se dedica muito a algo, essa coisa dá fruto”, comenta Rita. O programa se tornou um sucesso, e chegou a ser disponibilizado em outros países da América Latina.

REPORTAGEM: Diogo Quinto, Ellen Cristina e Gabriel Granja 

FOTOGRAFIA/VÍDEO: Ana Paula Catrib e Diogo Quinto

ARTE: Lucélia Alves

© 2018 feito pelos Alunos do 7º Semestre de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi

REPORTAGEM: Diogo Quinto, Ellen Cristina, Gabriel Granja e Raphael Christofoli   

DESIGNDiogo Quinto e Lucélia Alves

ARTES: Ellen Cristina e Lucélia Alves

VÍDEOS: Ana Paula Catrib e Diogo Quinto  

FOTOGRAFIA: Ana Paula Catrib, Diogo Quinto, Ellen Cristina e Lucélia Alves

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